29 março 2015

Coração Partido - Por: Pedro Marins


"Minha respiração já não é a mesma de antes. Estou sem ar, sem fôlego. Me ajoelho no chão e faço orações para um Deus que eu não acredito existir. Tenho pouco tempo de vida, enquanto isso ela tem a liberdade pela frente. Nosso coração foi partido ao meio, mas o golpe fatal foi dado no meu peito.
Ela vive seus melhores dias, cheios de alegria e realizações. Enquanto isso eu mal consigo forçar um sorriso, são meus piores dias. E são os últimos. De certa forma fico feliz por ela ter encontrado alguém que de o mundo a ela, mas, enquanto eu tenho que virar noites de insônia, ela não tem problemas para dormir ao lado de quem ela ama. Nosso coração foi partido ao meio, mas o golpe fatal foi dado no meu peito.

Não sei o que fazer. Fico lembrando de nós dois e percebo cada vez mais que a melhor parte de mim sempre foi você. As pessoas me perguntam se estou bem, mas estou engasgado e você está feliz. Minha vida está caindo aos pedaços. Meu coração está caindo aos pedaços.



Meus amigos me dizem que coisas ruins sempre acontecem por algum motivo maior. Mas nada que eles me falem, ou até mesmo façam por mim, me fará parar de sangrar. Ela partiu, teve seus motivos, tem outra vida agora. E eu sigo lamentando, arrependido por ter errado com ela.

Eu ainda estou apaixonado, e ela já foi embora. Nosso coração foi partido ao meio, mas o golpe fatal foi dado no meu peito.

Ela tem meu coração nas mãos, e o dele também. Nenhuma dor a incomoda por que a adaga da dor está encravada no meu peito. Na mala dela, havia roupas. Na minha, havia culpa. E agora estou moribundo, tentando entender o pouco das lembranças que nos restou. Por que quando você se foi, levou mais que suas coisas. Me deixou sem amor, levou minha esperança. 

Ainda estou vivo, mas pouco tempo ainda me resta. Meu coração bate lentamente e o sinto parando. Não sei se com ela teria sido diferente. Se eu tivesse ao seu lado talvez a morte não viesse tão cedo me buscar e me dar seu beijo de misericórdia. E eu a sinto chegar. A morte, tão fria. Não posso vê-la, mas posso sentir sua presença.
Queria eu que ela ainda viesse me dar adeus, por tudo que vivemos. Mas o ar esfria cada vez mais, e meus pulmões já não conseguem absorvê-lo. A morte está parada ao meu lado, agora eu posso vê-la. Apenas um vulto preto que se aproxima da minha face. Ela encosta seus lábios nos meus, e, ao contrário do que imaginei, eles são quentes. 
Talvez não fosse a morte então. Talvez fosse ela, ainda que atrasada para ouvir minhas palavras, mas com tempo o suficiente para uma despedida. Uma despedida que eu não pude presenciar. 
Eu ainda estou apaixonado, e agora ela está aqui. Mas o nosso coração foi partido ao meio, e o golpe fatal foi dado no meu peito."


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Mais um texto do nosso querido escritor Pedro Martins. Espero que tenham gostado deste texto lindíssimo.



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